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Elevador da Bica - Lisboa |
É sábado e o acordar é quando quer, sem pressas nem sobressaltos.
Subo a Rua de Santa Catarina e,
quando páro no miradouro, imagino entre a névoa o rio lá em baixo, o Cristo Rei, a ponte, a outra margem.
Gosto deste sentir calmo pela
manhã. No Calhariz quase não passam carros. Há quase silêncio. Sorrio ao ver um
imponente S. Bernardo e, ao passar por ele não resisto fazer-lhe uma festinha.
O dono, indiferente, conversa com a companheira. Os olhos pachorrentos do S
Bernardo retribuem-me o sorriso.
No quiosque do Sr. João compro o
jornal e, entre trocos desejamos mutuamente bom fim de semana. Atravesso a rua
e entro na frutaria onde os legumes e a fruta são fresquinhos. Trocam-se
comentários de circunstância e uma das empregadas a sorrir: " este fim de
semana não foi à terra?". Digo que não, que gosto e sabe bem ficar por aqui.
Não digo, mas adoro esta cidade e, por vezes sinto-me dividida nos gostos e na
saudade.
O talho está cheio, entretida a
observar a carne exposta e a dificuldade de uma senhora estrangeira em explicar
o que quer (o gesto é tudo!) quase não dou pelo nº 50, o meu. Brinco com o
empregado entre o chouriço e linguiça, que são a mesma coisa, mas ora essa
tanto faz o nome que se dê mas o alentejano e de porco preto é bem melhor!
No supermercado há mistura de
vozes em linguajar diferente. Uns que vivem por cá, outros que estão de
passagem.
Subo a Rua da Rosa. A Padaria das
Mercês apinhada de gente. A fila começa na rua. Não há pressa. O cheiro a pão
saído do forno faz da espera momento de prazer. O regresso à infância e a
menina de tranças em correria a entrar pela casa do forno, o pai, com uma
enorme pá de madeira tirava em filinha 4, 5 pães e os colocava numa canastra.
E regresso a casa com sacos daqui
e dali.
No miradouro já se avistam um
pequeno barco à vela no Tejo e um dos pilares da ponte.
Pouco importa a neblina que
permanece. Lisboa é linda de qualquer jeito.
Lisboa, 15 de Janeiro de 2010
Nota: Passados seis anos, muito mudou nesta zona com o aumento de turistas. Na rua, as vozes das vizinhas a conversar de janela para janela foram substituídas pelo som constante das rodinhas das malas na calçada. Mas, felizmente, o que descrevi, continua sem grandes alterações.
Esquecido anteriormente, a pausa na pastelaria Emenda. Empregados simpáticos e pastéis de nata deliciosos.